domingo, março 08, 2009
quinta-feira, maio 24, 2007
A queda da Bartira
Por Maneco Nascimento[1]
“Lembre-se de que não é Deus!”
(extrato da memória do mito do Império Romano)
Não se pode dizer que a natureza humana não tire qualquer prazer da posse do poder. “Quem pode, pode. Quem não pode, se sacode”, diz o ditado popular acerca da posse do poder. A interpretação do ditado vai variar quer para o ponto de vista de quem o detém, quer de quem o vê ou sofre sua aplicação. O que se pode realmente considerar para as relações sociais é: o quanto o poder seria benéfico e o quanto cobra o que é de César. Poder-se-ia citar vários e diversos arroubos na história das civilizações. Da + primitiva à + contemporânea alguém sempre perdeu a cabeça e outros muitos tiveram as suas abstraídas. Sem qualquer maniqueísmo, como se isso fosse possível de se auferir quando se trata do homem (genérico), o poder sem medida é matemática sem média e, em algum momento, a aritmética falha.
Houve um tempo em que o poder constituído foi substituído pelo da guilhotina, pelo do desterro, pelo do cárcere perpétuo. O poder sobre o anterior poder. Pode-se dizer que, às vezes, quem pode, poda. E quem não poda é o que cedo acorda. Para os “poderosos” o imaginário popular acaba definindo paternidade que por vezes margeia o obscuro. Mas existe o poder das instituições religiosas, solidárias e alhures que nem sempre granjeiam o poder pelo poder. Só umas consideráveis exceções fazem do seu poderio a távola da fé, cega.
Que se possa deter-se em dois pequenos e não generosos nós da arrogância, posse legal do poder que encolheram a arte e a criação de bem coletivo para ater-se em favor de criador e criatura falhos-trágicos. Uma definiu artistas como ratos vindos dos esgotos, da lama. Outro pensou que era Deus sem conhecer sequer a posse dos divinos. Mesmo nas leituras de adestramento ao poder, não perceberam a recepção lingüístico-literária das entrelinhas e para além das linhas. A recepção foi fraca como é frágil o poder mal administrado. Pagam a moeda a Caronte embora o inferno ainda não seja nem o Dante, com licença da poesia reparadora dos desentendidos, distúrbios morais e psíquicos.
Dizem os memoriais da história da civilização ocidental que quando os Césares voltavam de suas grandes conquistas desfilavam em carros abertos (bigas, papamóveis, etc.) para receber a saudação popular. Reza também o exemplo de preservação democrática que ao lado do deus, à biga viajava um lacaio que vez por outra cochichava ao ouvido do imperador: “lembre-se de que não Deus!” Os surdos sucumbiram + rapidamente.
Aos de outrora e aos do próximo outono fica a mesma lição de casa grande e senzala, poder é útil, mas é mais quando aplicado a um bem maior que as vaidades pessoais. O deus ex-machina não opera para os opressores, está + afeito aos oprimidos e ele sempre surge para o bem da humanidade + saudável.
Para os que precisam de uma esquina para trabalhar é aconselhável uma sombreada, já que o verão não tem sentimentos, tem vida solar para os mais e os menos protegidos.
Teresina, vinte e dois de maio de dois mil e sete. Dia que será lembrado como o da Queda da Bartira.
...e as notícias que eu gostaria de dar
E já pensando nos mil e um projetos, nas coisas para agilizar... enfim. Mas ainda estou na curtição da novidade da notícia.
E depois, ainda no mesmo dia, a queda da Bartira. E a esperança em novos horizontes no cenário artístico da cidade.
E por enquanto é isso!
segunda-feira, maio 21, 2007
Tempo!!! O tempo, que se instala e se corporifica na pesquisa, tornando-se um espaço concreto e aberto, para que a criação de fato aconteça. Um tempo de experimentação de que o pesquisador necessita para que a produção de conhecimento aconteça no corpo. Tempo que se torna processo e que guarda o desconhecido e o que não pode ser previamente planejado. Tempo em ação, em espaço, que possibilita a dilatação da idéia e dos seus sentidos, que acolhe as questões e promove a rede de relações, o aparecimento de possibilidades de escolha e o aprofundamento de certos caminhos e de outros não. O tempo que permite o reconhecimento do que permanece, mas também do que modifica e transforma.
Trecho de texto retirado do idança
quarta-feira, maio 16, 2007
domingo, maio 13, 2007
CAETANO VELOSO FALA DE CAJUÍNA
"Numa excursão pelo Brasil com o show Muito, creio, no final dos anos 70, recebi, no hotel em Teresina, a visita de Dr. Eli, o pai de Torquato. Eu já o conhecia pois ele tinha vindo ao Rio umas duas vezes. Mas era a
primeira vez que eu o via depois do suicídio de Torquato. Torquato estava, de certa forma , afastado das pessoas todas. Mas eu não o via desde minha
chegada de Londres: Dedé e eu morávamos na Bahia e ele, no Rio (com temporadas em Teresina, onde descansava das internações a que se submeteu por instabilidade mental agravada, ao que se diz, pelo álcool). Eu não o vira em Londres: ele estivera na Europa mas voltara ao Brasil justo antes de minha chegada a Londres. Assim, estávamos de fato bastante afastados, embora sem ressentimentos ou hostilidades. Eu queria muito bem a ele. Discordava da atitude
agressiva que ele adotou contra o Cinema Novo na coluna que escrevia, mas nunca cheguei sequer a dizer-lhe isso. No dia em que ele se matou, eu estava
recebendo Chico Buarque em Salvador para fazermos aquele show que virou disco famoso. Torquato tinha se aproximado muito de Chico, logo antes do tropicalismo: entre 1966 e 1967. A ponto de estar mais freqüentemente com Chico do que comigo. Chico eu eu recebemos a notícia quando íamos sair para o Teatro Castro Alves. Ficamos abalados e falamos sobre isso. E sobre Torquato ter estado longe e mal. Mas eu não chorei. Senti uma dureza de ânimo dentro de mim. Me senti um tanto amargo e triste mas pouco sentimental. Qaundo, anos depois, encontrei Dr. Eli, que sempre foi uma pessoa adorável, parecidíssimo com Torquato, e a quem Torquato amava com grande ternura, essa dureza
amarga se desfez. E eu chorei durantes horas, sem parar. Dr. Eli me consolava, carinhosamente. Levou-me à sua casa. D. Salomé, a mãe de Torquato, estava
hospitalizada. Então ficamos só ele e eu na casa. Ele não dizia quase nada. Tirou uma rosa-menina do jardim e me deu. Me mostrou as muitas fotografias de Torquato distribuídas pelas paredes da casa. Serviu cajuína para nós dois. E bebemos lentamente. Durante todo o tempo eu chorava. Diferentemente do dia da morte de Torquato, eu não estava triste nem amargo. Era um sentimento terno e bom, amoroso, dirigido a Dr. Eli e a Torquato, à vida. Mas era intenso demais e eu chorei. No dia seguinte, já na próxima cidade da excursão, escrevi Cajuína."
Cajuína
Caetano Veloso
Existirmos a que será que se destina
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina