segunda-feira, julho 24, 2006

com a licença...


Só hoje eu, como uma irresponsável leitora, fui ler este texto, escrito pelo Maneco Nascimento, sobre a Mostra do Núcleo de Criação do Dirceu, na sua coluna no site Viva Arte. E peço licença para mostrar aqui um trecho dele... Nem vou falar demais, o texto já diz tudo!
Para ler na íntegra, vai lá no Viva Arte!


"O Centro de Criação do Dirceu (Teatro J. P. II) tem estabelecido abertas fronteiras culturais que, sem sombra de dúvidas, traz novos ares de representação acuidada de estética reflexiva contemplando o homem novo que nasce da conformidade do velho, só para não esquecer Pound. Tendo como mote “ARTE = PENSAMENTO + AÇÃO” o C.C.D(J..P. II) está aí pro que der e vier e não está prosa. Depois de seis meses de poesia experiência já que, como diz Octavio Paz, a poesia está contida em qualquer manifestação criadora, os resultados podem até nem agradar a “gringos” e fulanos, mas estão contidos no universo de bichos grilos, cigarras, macacos sensíveis e outros bichos fabulosos. A arte é pra ser pensada e acionada à recepção mais diversa e transformadora do ato criador para o/do leitor (Regina Zilberman).

Torquato Neto diz “(...) Quando eu a recito ou quando eu a escrevo, uma palavra – um mundo poluído – explode comigo e logo os estilhaços desse corpo arrebentado, retalhado em lascas de corte e fogo e morte(como napalm) espalham imprevisíveis significados ao redor de mim: informação. Informação: há palavras que estão nos dicionários e outras que não estão e outras que eu posso inventar, inverter(...)” (Torquato, neto. Os Últimos Dias de Paupéria – Do Lado de Dentro. 2ª ed. São Paulo: Editora Max Limonad Ltda, 1982 ).

Já que o assunto é informação, palavra, ação e criação, vamos falar sobre gente que brilha e corpo que fala, porque de resto a arte é pra ser sentida e não analisada. O Corpo que fala através do Núcleo de Criação do Dirceu(J. P. II) apresentou em segunda temporada o trabalho desenvolvido nos últimos cinco meses. A Mostra-Resultados do N.C.D Dança-teatro ocorreu em última versão nos dias 06,07,08 e 09/07/06. Segundo o diretor artístico da Casa, Marcelo Evelin, a reapresentação dos resultados veio para atender ao público que não pôde assistir a estréia de maio.

O espetáculo, ou os espetáculos contidos em um corpo maior, fala por si só. A máquina do corpo humano com seus músculos, células, sangue e neurônios espalha informações que quebram as formas, recriam as palavras invisíveis e tornam audíveis e concretas as manifestações, implodindo sentimentos e expiando significados mais próximos ou não de cada espectador.
Criativo e inteligente o espetáculo-cortejo começa no hall do teatro e passeia pela praça, pelas salas de ensaios, corredor, jardim de inverno, palco e platéia. Há momentos em que o público é espetáculo que vê outro na platéia. Mais que apresentar as dependências da Casa de espetáculos, muito louvável, a experiência expõe células cênicas em ambientes diferentes compondo o corpo funcional da célula-mãe que cultiva o amadurecimento de todo o corpo em elaboração constante.

Estranho?, incomum e pouco convencional o espetáculo mexe com sons produzidos, reproduzidos e improvisados e ainda com os universais (Sérgio Matos e cia.) que preenchem os espaços “vazios” das intervenções. São instalações que vão tomando forma e movimento e desenhando, como diria Evelin, um canteiro de obras aos olhos do público, apostando em construção não necessariamente como resultado final, mas principalmente como processo.

O público aprecia desde manifestações populares como o homem com a bola( um Jimmy Charles “stábile”, com licença do trocadilho) e as de rua (homem e movimento sobre o tatame) e outras com texto de Caio Fernando Abreu(Luciano Brandão, Layanne Holanda e Elielson Pacheco em contenção e equilíbrio). Há ainda uma Bid Lima variando sobre o mesmo tema, uma proposta de propósitos; Fábio Crazzy apresentando a máquina do corpo humano sob um prisma didático (biologia das imagens), bom de ver. Janaína Lobo, Weyla Carvalho, Elielson Pacheco e Fábio Crazzy num jogo de mostra e esconde parte de corpos em movimento(bem humorado e muito inteligente). Há ainda os quadros do círculo das repetições(Eduardo Prazeres e Jimmy Charles), o em que Luis Carlos, Laila Caddah e Soraia Portela apresentam a mágica caixa das informações enlatadas(tecnologia sócio-comunicacional de massa e interação humana) e a menina(Jamila Rocha) que escala os muros em busca de liberdades?

Intertextos adicionais, extratextos propositais e palavras não ditas que falam, completam e distendem novos apelos significativos. È um resultado que não desmerece o homem criador nem sua criatura(mente) criativa. O Núcleo de Criação do Dirceu não dorme no ponto e quando dorme sonha livre, quebra as convenções e converte a arte do um para o outro. É teatro vivo porque o morto Peter Brook já enterrou.
Como diria Torquato: “Informação? (...) Imprevisíveis significados. (...)” (Idem, 1982)

Teresina, onze de julho de todos os deuses de dois mil e seis do século vinte e um."


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